segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A vida numa UCI

Estou desde a semana passada a estagiar numa Unidade de Cuidados Intensivos. Devo dizer que, ao contrário do que eu imaginava, o ambiente até é bastante calmo. Não porque não ocorram muitas vezes situações emergentes ou stressantes mas porque todos os que ali trabalham reagem a esse stress de uma forma bastante calma. Não há corridas nem atropelamentos, nem material a ser atirado de um lado para o outro. O nosso médico disse-nos que a melhor forma de lidar com este tipo de situações é com calma. Calma não é obrigatoriamente "lentidão". É só (só?...) a capacidade de manter a racionalidade em situações que apelam fortemente ao nosso lado mais irracional e impulsivo.

Uma vez ouvi uma frase que dizia algo do género: "nenhuma situação é emergente a tal ponto de não nos permitir pensar pelo menos durante um minuto".

Mas hoje, desiludi-me. Porque a entubação dos doentes deve ser feita com o doente sedado e o doente não estava suficientemente sedado, porque há procedimentos invasivos que suscitam dor que, ao contrário do que muitos defendem, não desaparece totalmente com a sedação... e porque vi como o doente se contorcia com o incómodo daquilo que lhe faziam. Esta atitude de indiferença perante a dor infligida é bem capaz de ser a coisa que mais me revolta; porque há analgésicos, porque há maneiras de diminuir o sofrimento e porque nem sempre são implementadas porque "só demora um bocadinho...", "porque não custa nada". Mas enquanto dói, dói. E enquanto dói o tempo passa mais devagar. E é a tensão que aumenta e é o medo que aumenta sem necessidade nenhuma. E é uma pessoa que ali está a sentir-se cada vez mais vulnerável e doente.

E depois é presenciar a dicotomia entre o profissional que todos os dias procede assim, as conversas banais entre enfermeiros e médicos enquanto se pica o doente, se magoa (ainda que sem intenção)... uns riem outro não.

Eu não tenho por hábito dizer palavrões, mas hoje...


Foda-se.



Inté*

9 comentários:

  1. aquilo que, quem está de fora, não sabe nem gosta de saber... força com o estágio!

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  2. "nenhuma situação é emergente a tal ponto de não nos permitir pensar pelo menos durante um minuto"

    Não é verdade. Experimenta estar numa luta de rua :P

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  3. bhaaa :( que tristeza! Só espero que com o tempo e experiência não fiques também assim, resiste a isso porque há profissionais que marcam a diferença, apesar de todos os dias lidarem com pessoas doentes, com a morte, as pessoas podem ser sensíveis e quero acreditar que serás uma delas :) **

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  4. Que pena endurecer-se dessa maneira... Para alguns doentes esses são os últimos (tristes) dias das suas vidas...

    É muito verdade: quando dói o tempo passa muiiiito devagar...

    Força! Um beijo.

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  5. As conversas paralelas entre enfermeirose restante pessoal penso que acontece porque já estão calejados e para eles é só mais um doente, penso eu, mas se for assim é de facto triste. Ontem estive toda a tarde a acimoanhar uma pessoa nas urgências e passava um médico a assobiar e tal, até quando fui falar com a médica da cirurgia ele estava lá no gabinete e assobiava, ria-se e esperguiçava-se até que a médica que me estava a tender o chamou à atenção e ele calou-se. Penso que é uma grande falta de resoeito pelos doentes e acompanhantes que estão muito tempo à espera. Enfim...

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  6. Tu desabafa à vontade...
    Toma lá um abracinhoooooooooooooooo

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  7. Confirmo o que disseste enquanto doente. É terrível. E o pior é que para além de ter sentido dores o serviço ficou mal feito, uma cirurgia que até hoje ainda ninguém percebeu como foi ficar neste resultado lindo.

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  8. E fracturas expostas? E tripas de fora? E olhos de fora? E malta com facadas? E atropelamentos?Nada?

    Oh!

    XL

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  9. Pam: obrigada ;)

    Jedi Master Atomic: se calhar pensar um minuto antes de começar a porrada dava jeito :P

    Ju Figueiredo Silva: :)

    Paula: obrigada :)

    anokas: tens razão...

    SuperSónica: obrigada :P

    Ana D.: lamento muito :\

    XL: Ahaha :P não...

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