sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Palavras leva-as o vento, já o outro dizia...

Estávamos na cozinha a fazer uma torta de laranja (que, a propósito, é a melhor torta de laranja do Mundo!), quando dei por mim a maçar a Manhê com as minhas conversas introspectivas. A Manhê tem sempre esta sorte de me ouvir a toda a hora. Na verdade, gostava até de saber a vossa opinião sobre o assunto...

Parece-me que as pessoas dão pouco valor àquilo que dizem. Existe a ideia de que, geralmente, somos maus ouvintes, de que damos pouca atenção aos outros - de que raramente somos todos ouvidos. Pelo contrário, parece que aquilo que não ouvimos, compensamos com a capacidade verbal. Mas será que somos apenas maus ouvintes? Eu acho que somos faladores péssimos. Dizemos tanta coisa da boca para fora... comprometemo-nos com coisas que não cumprimos; somos apologistas do "depois eu digo-te qualquer coisa", sem nunca cumprir essa promessa. Ou então: "depois combinamos", "depois eu mostro-te", "depois eu trago-te", mas falamos como se o outro, à partida, já nem acreditasse em nós - dizemos estas coisas só porque sim, um género de pró-forma que, na verdade, nos faz sentir melhor connosco próprios, apesar de o dizermos sem intenção nenhuma de o cumprir.

As palavras têm um peso. Eu parto do princípio que quando alguém me diz uma coisa, aquilo que foi dito, foi dito com uma dada intenção e não apenas dito por dizer. Eu fico à espera, eu levo a sério, eu acredito... ingénua talvez, não é? Mas o mesmo peso que eu ouço nas palavras dos outros, eu imprimo nas minhas. Eu digo as coisas a sério; quando eu digo, eu estou realmente a dizer alguma coisa. Mas apercebo-me muitas vezes, que as minhas palavras são escutadas com alguma leveza, uma certa descrença - afinal de contas, estamos habituamos a palavras vazias, parece-me.

O mais grave de tudo, na minha modesta opinião, são as palavras inflamadas. Chamemos palavras inflamadas aquelas que acarretam com elas uma carga sentimental maior. Coisas do género "minha querida", "muitas saudades" e por aí fora. Dá-me muito trabalho discernir entre aquilo que me é dito com intenção e aquilo que não é. As palavras não deveriam ser uma forma de aliviar a nossa consciência e de ficarmos bem connosco - não basta dizer coisas bonitas para anular actos menos bonitos. 

Eu sou complicada, já sei. Mas se disséssemos sempre aquilo que realmente sentimos, poupávamos muitas confusões.



Inté*


Sem comentários

Pela hora de almoço, a Nova Zelândia já tinha entrado em 2016. O Avô, ao ouvir a notícia no Telejornal, disse:

"Porra, até a entrarmos no Ano Novo somos mais atrasados do que os outros!"


E é isto.



Inté*