quinta-feira, 16 de junho de 2016

O Cúmulo das Coisas

Há cerca de um mês, o Papa Francisco discursou sobre a atenção que devotamos aos nossos animais e aos nossos vizinhos (podem ler o texto aqui). No fundo, foi dito que devemos tratar bem os animais sem nos esquecermos de tratar bem as pessoas. 

Tenho esta percepção, não sei se estarão de acordo, de que, muitas vezes, a mudança de pensamento e paradigma na sociedade se associa a uma dicotomia muito marcada ou então, circula entre extremos. Quero eu dizer que, se há algum tempo os animais eram vistos como "algo" sem direitos e sem importância, hoje em dia dirigimos a nossa atenção de uma forma muito especial para eles; preocupamo-nos em legislar os seus direitos, em fazer cumprir a lei, etc. Quanto a mim, perfeito. Os animais não são coisas: são seres vivos e merecem que os tratemos bem.

MAS, continuam a existir as pessoas. E o que eu vejo muitas vezes, infelizmente, é que os "defensores dos animais", ao se colocarem do lado dos seus bichinhos, assumem uma postura bastante defensiva e por vezes agressiva até, para com os seus semelhantes; quase como se nós, seres humanos, fôssemos os maus da história e os animais os principais (e únicos) alvos do nosso amor e respeito.

Ora, o facto de defendermos os animais e de os amarmos, não nos impede de sentir o mesmo amor e respeito pelos seres humanos; não são duas realidades mutuamente exclusivas. As pessoas também precisam que as amemos e que as defendamos. Como é possível que alguém alimente os animais da rua e se negue a ajudar alguém que passa fome? Não faz sentido, não consigo compreender. Da mesma forma que não compreendo a situação oposta...

Sabem, eu penso que nós menosprezamos imensamente o nosso coração. O nosso coração é enorme! Tem capacidade para amar todos os animais e todas as pessoas; tem capacidade para defender os animais e as pessoas; tem capacidade para ser bom para os animais e para as pessoas. Não precisamos optar por um dos dois! Não é maravilhoso?

Eu proponho uma coisa: eu proponho que em vez de nos apelidarmos de "defensores dos animais", nos apelidemos de "defensores dos seres vivos", de tudo aquilo que existe e que pode beneficiar do nosso carinho e atenção. Que tal?

Já agora, Simbinha, Pirata e Óscar, a vossa dona tem muitas saudades vossas. 


Inté*

10 comentários:

Ó menina disse...

Concordo, muitas vezes os 'defensores dos animais' (sem generalizações) assumem uma postura de violência para com os outros.
Gosto do movimento em defesa dos seres vivos, adiro já. Sem extremismos, claro!

Gaja Maria disse...

Tudo o que toca os extremos é mau. Podemos sim, defender e ajudar os seres vivos. Com muito amor e carinho :)

Sofia disse...

O meio termo anda cada vez mais difícil de se encontrar. O meu coração parte-se com injustiças para qualquer um dos lados. É como dizes, no nosso coração, cabem todos.

Estudante disse...

Ó menina: sim, sem generalizações ;) e sem extremismos!

Gaja Maria: sim :D

K: ;)

Sci disse...

Se calhar tenho uma visão um bocadinho cor-de-rosa deste assunto, mas apenas porque nunca conheci um "defensor dos animais" ou um " defensor dos humanos" que não fosse ambos. Quem o é verdadeiramente, não reconhece esses rótulos, respeita a vida em todas as suas formas, sem exclusividades.
Muitas vezes a desculpa do "deviam mas era ajudar as pessoas" é dada por quem nada faz, nem por uns nem por outros. Infeliz ou felizmente, nunca ouvi ninguém dizer "deviam mas era ajudar os animais", tal como também nunca vi uma postura violenta dos seus supostos apoiantes.... De qualquer das formas, concordo totalmente com o teu movimento dos "defensores dos seres vivos" :)

Jedi Master Atomic disse...

"defensores dos seres vivos" ?!?!!?
Não me parece. Não consigo apoiar a existência de mosquitos e vespas :P

S* disse...

Estudante, acho que isso não é assim tão linear. Eu, como pessoa, não chateio ninguém, não faço mal a ninguém, gosto de ajudar como posso, sempre que posso, MAS tenho mais sensibilidade para animais. Isso é algum pecado?

Há quem tenha mais sensibilidade para crianças, para velhinhos, para os migrantes, para os pobrezinhos de África, para o vizinho do lado, para animais. Desde que se tenha uma causa, não importa qual esta é!

Estudante disse...

Sci: estás cheia de sorte ahah :P mesmo em algumas notícias e nos media, são muito comuns os extremismos ;)

Jedi Master Atomic: ahaha :D compreendo!

S*: Olha, não percebi o teu comentário :P eu não critiquei quem tem sensibilidade para animais, antes pelo contrário :) se gostas de ajudar pessoas e animais, parece-me perfeito e estás a ir de encontro exactamente àquilo que eu disse :) e quanto ao facto de se tratar de algo "linear", eu acho um conceito bastante simples... o que acontece é que é um assunto também bastante controverso :P ainda que eu não perceba porquê. Amar é amar. Só isto. Seja o amor pelos animais ou pelas pessoas ;)

Portuguesinha disse...

Quando a sociedade coloca rótulos e se divide começam as rachas a aparecer. Para mim não faz sentido dizer-me "defensora dos animais". O que é que isso significa? Não gosto de sentir nada em sofrimento. Animal de quatro patas, duas, ou nenhuma... novo ou velho.

Complicam-se muito as coisas. E o que descreves aplica-se ainda mais na classificação entre os próprios seres humanos. Agora divididos cada vez de forma mais marcante por "etnia" e "cor". Ao se dividirem desta forma estão a criar clãs. Como antigamente existiam tribos, de seres iguais com pequenas diferenças, mas todos se combatiam sangrentamente até à morte. Hoje a guerra é de palavras, também de violência mas, ainda mais triste, é a crescente falta de tolerância e compaixão.

Estudante disse...

Portuguesinha: concordo contigo :) não sei de onde nos vem esta mania tão premente de "segregar"... ;)