quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Ai tu és de Medicina?...

Raramente digo o curso que frequento. Na maior parte das vezes, só digo que estou em Medicina quando me perguntam. Não gosto de proclamar aos quatro ventos que vou ser médica, apesar de ter muito orgulho nisso (se estiver com a minha Avó nem sequer preciso fazê-lo porque ela faz questão de informar toda a gente...).

É um curso difícil. E quando me refiro a dificuldades, não me refiro apenas à quantidade de matéria e às longas horas de estudo; refiro-me sobretudo à carga psicológica que a nossa área acarreta. Somos obrigados a ver e a fazer muitas coisas que o mais comum dos cidadãos nunca precisará de ver ou fazer. E, como comuns cidadãos que somos, também os estudante da área da Saúde têm de aprender a lidar com os medos dos outros, os seus próprios medos e a dor. E penso que nesse aspecto, existe uma grande lacuna no ensino na área da Saúde, uma vez que não recebemos orientações nenhumas no sentido de lidar com esta vertente mais pessoal. Estou convencida de que é este o nosso maior desafio: vencer os medos e os preconceitos. E até agora, temo-lo feito sempre sozinhos...



Inté*

11 comentários:

Especialmente Gaspas disse...

Acredito que o lidar com sentimentos e emoções é complicado! Não deve ser fácil dar certas noticias, não deve ser fácil ter de lidar com pacientes que choram, com pacientes mal educados, entre outras situações que nem eu mesma consigo imaginar!

A cima de tudo tentar colocar-nos no lugar do outro deve ajudar, apesar que cada um de nós sente e vê as coisas de forma diferente e muito própria...

Anónimo disse...

Lidar com os medos dos outros deve ser a maior lacuna da medicina.
O hábito de lidar com as situações mais difíceis, de vulgarizar a morte e o sofrimento, pode dar ao médico uma certa frieza desejável no desempenho da actividade, mas podem transformá-los em cidadãos desprovidos de qualquer tipo de calor humano de que o doente tantas vezes está carente. E não falo só porque me apetece dizer mal da classe médica. Falo porque, infelizmente, a vida já me colocou em situações de precariedade onde os afectos, que nunca são demais, foram de menos.
O bom das situações terrivelmente más por que passamos, é que também encontramos pessoas genuinamente "pessoas", apesar de tudo.

Estudante disse...

Especialmente Gaspas: sim, colocar-nos no lugar do outro é algo que nos é exigido durante a prática clínica. O que é preciso é saber equilibrar entre a distância que é necessária para nos "protegermos" e entre o cuidado ao doente para não nos tornarmos demasiado frios :)

Mim: concordo plenamente e devo dizer-te que a grande parte dos médicos nos alerta para a forma como devemos lidar com os doentes. Um professor meu chegou mesmo a dizer que ser simpático não é um "bónus" é uma obrigação do médico. E está mais do que provado que um trato amável é meio caminho andado para um bom tratamento. Espero que esta nova geração de profissionais de saúde compreenda melhor este conceito de empatia ;)

Suse disse...

Nunca tinha pensado nisso, mas realmente tens razão. Esse curso não dava para mim mesmo. Não tinha "estaleca" ahah.

Catarina Reis disse...

Bom ponto de vista, ninguém nos ensina a vencer esses obstáculos, apenas a escola da vida. Força.
Beijos

C. disse...

concordo plenamente, e isto é tudo o que há a dizer.

mais uma vez, muito bom

João Pedro disse...

Devia haver uma vertente de psicologia mais forte. Para evitar os médicos de merda que se afundam sobre pressão. Os médicos têm uma profissão difícil e são bem remunerados, porque não podem ser maus, não são meros cidadãos quando estão em serviço, não podem ser.

XL disse...

Já começas te a dissecar cadaveres?

Xs disse...

Sim, acho que tens razão nisso!

Estudante disse...

Susi: a estaleca também se ganha ;)

Catarina Reis: ora, nem mais :)

C.: obrigada :)

João Pedro: sim, tens razão. Um bom médico, daqueles médicos mesmo de verdade, não é uma pessoa comum.

XL: ainda não, mas acho que já faltou mais x)

Xs: ;)

Paula disse...

Às vezes penso que os professores de medicina devem partir do princípio que quem para ali foi já está preparado ou pré-disposto para esse tipo de situações.
Podiam pelo menos colocar o assunto...