Já aqui vos contei algumas das peripécias que testemunho nas minhas viagens de autocarro. Algumas até têm piada, sim senhor, outras nem tanto. Ou sou eu que estou a ficar cansada destas andanças ou então as pessoas estão cada vez mais tolinhas. A verdade é que eu apanho o autocarro que faz o percurso entre a cidade e o hospital e a maioria das pessoas ou está doente ou está quase a ficar doente e isso, em parte, até pode explicar os devaneios de algumas...
Bom, hoje foi um dia em que a espera pelo nº20 foi particularmente penosa. Uma dupla de mulheres sentou-se ao pé de mim com uma conversa deveras interessante. Uma delas, ainda por cima, tinha um problema com os "R's", pronunciando "morrar" em vez de "morar" e outras coisas do género. E a verdade é que até isso me estava a irritar.
Em vinte minutos fiquei a saber que a senhora tinha uma depressão mas que era muito alegre, que o marido era um lambão que não queria fazer nada e que a obrigava a trabalhar a ela, que durante a gravidez nunca foi a uma consulta e a criança nasceu perfeitinha, que a mãe tinha levado uma bofetada no dia em que se casou, que é uma mãe galinha, que tem diabetes e que ia comprar uns pastéis de nata mas depois não comprou, que só dorme duas horas por dia porque a cama não faz bem a ninguém e vai viver até aos cem (vais, vais...) etc. e tal.
Admiro estas pessoas que em tão pouco tempo põem a vidinha toda ao Sol, mas admiro ainda mais os outros que estão à volta e que se intrometem na conversa para concordar com as maiores parvoíces e para dar o seu parecer. Ela bem olhava para mim, provavelmente estranhando a minha falta de participação na tertúlia... ou então não consegui mesmo disfarçar o tédio.
E depois há ainda aquela componente que é muito comum aqui para estes lados do "a minha doença é maior que a tua". Enfim... mas o que eu não consigo mesmo evitar é pensar: "Meu Deus, como é que certas pessoas encontram quem se case com elas?!"
Pronto, esta foi má... depois queixo-me do karma.
Inté*