Não haverá, certamente, laço maior do que aquele que se criou, porque a Natureza assim o quis, entre o Céu e a Montanha. Agora que os dias se tornam cada vez mais invernais, cheios de chuva e nevoeiro, mais claramente eu discirno na paisagem pequenas provas desse amor já tão antigo.
São braços fortes as grandes nuvens que avançam devagarinho e acolhem com delicadeza os cumes mais altos da serra. Quem a vê assim, imponente e tão majestosamente erguida sobre o sopé, não diria que a rendição aos encantos do Céu fosse tão prazenteiramente conseguida. Mas ela ali fica, lânguida, quase imóvel, nesse tão terno e duradouro abraço.
Um abraço tímido, diria eu, pois sempre que se encontram assim, cai um véu sobre a paisagem, um nevoeiro cerrado, coberto de pequenas pedrinhas brilhantes, que esconde os dois amantes.
Por estes dias, raras são as noites em que conseguimos uma visão clara sobre as estrelas. Penso que também o Céu se reserva esse direito de guardar pequenas surpresas só para quem lhe roubou o coração. Perdoo-lhe por isso, estas noites tão longas e escuras. As estrelas são da montanha e até lhe deram nome.
Esta conquista, à base de pequenos pontos fulgentes e dias de prata e cristais, terá a sua recompensa quando vier a neve e a serra se cobrir com um lindo e suave manto branco. Casar-se-ão os dois num abraço para sempre, à vista de todos e das andorinhas, que na Primavera já não há véu que os esconda.
Inté*