sábado, 26 de março de 2016

Bruxelas

Sinceramente, já não sei o que dizer sobre os ataques terroristas (e este post já vem com algum atraso). A primeira ideia que me ocorre é a de que este tipo de incidentes não deveria ser alvo de cobertura televisiva; cobertura por rádio seria suficiente. Deve ser muito reconfortante para os cabecilhas deste tipo de acções verem as consequências dos seus actos em todas as estações de televisão. Uma vitória, sem dúvida. A luta contra o terrorismo deveria fazer-se sem grande alarido, de forma forte e consistente mas sem barulho, como se ele fosse um tema secundário. Bem sabemos que não é, mas podíamos combatê-lo também com esta postura de desprezo, mesmo que o sintamos de forma diferente.

Quanto ao resto, parece-me difícil convencer alguém de que não vale a pena ter medo. Mas não vale mesmo. Ir no metro ou no avião a olhar constantemente em todas as direcções à procura de sinais suspeitos vai valer-nos de quê?... Vamos obrigar alguém a sair? A maior vitória do terrorismo é impedir o indivíduo de viver a sua vida e a sua liberdade. Aeroportos fechados, ruas vazias, fronteiras encerradas... parecemos uns bichos encurralados. Como resolver esta situação? Não faço ideia. Mas, aparentemente, também não é assim.


Inté*

sexta-feira, 25 de março de 2016

Cozinhamentos

Cozinhar é uma forma de amar as pessoas. Aprendi isso com a Manhê. A maneira como a Manhê cozinha só pode ser de alguém que gosta muito de nós. Não digo que quem não cozinha não tenha capacidade de amar; não é isso. Cozinhar é só mais uma forma de demonstrar carinho, entre tantas outras. Mas é quase a minha preferida. É por isso que a Manhê fica triste quando não comemos tudo (tal e qual como quando éramos pequeninas...). Quando desvíamos alguma coisa para a borda do prato, é um bocadinho de amor que fica ali sem ser consumido. Eu gostava que a Manhê não levasse isso de forma tão literal... 


Inté*

quinta-feira, 24 de março de 2016

Aniversários

No dia do meu aniversário recebo mensagens de parabéns de vários estabelecimentos comerciais. Não sei se vos acontece o mesmo, mas deduzo que sim. É da óptica, é da loja disto, da loja daquilo... enfim. Uma estratégia de marketing como tantas outras - obviamente, eles não querem saber do nosso aniversário para nada, à excepção talvez das ópticas (a idade não perdoa e raramente morremos sem um par de óculos) e das funerárias (por motivos mais do que evidentes...). Mas da funerária nunca recebi os parabéns. É verdade que não sou cliente assídua porém, de qualquer maneira, como deve ser bom para os donos deste tipo de negócio assistir ao envelhecimento da população! Quantos potenciais clientes! Cada ano que passa é um caminha inevitável para os lucros de uma casa deste tipo.
Pensando bem, seria uma hipocrisia da parte de uma funerária dar os parabéns a alguém. O que eles querem mesmo é que morramos e que nos deixemos destas coisas - bolos, desejos de muitos anos de vida... uma tradégia.

Uma funerária honesta nunca diria menos do que isto:

"Hoje é o seu aniversário. Mais um ano em que não tivémos o prazer de o ter como nosso cliente. Talvez durante este ano tenhamos o gosto de lhe prestar os nossos serviços".

E quem é que queria ser cliente desses senhores que tão abertamente expressam o desejo de nos ver em quatro tabuinhas?? Ninguém! O mundo dos negócios nem sempre é compatível com o bom carácter das pessoas. É preciso uma certa hipocrisia.


Inté*


quarta-feira, 23 de março de 2016

Notícias

A minha periodicidade de postagens tem sido muito variável... ou lábil, como nós dizemos em termos médicos. Na verdade, até estou de férias, portanto não será propriamente por perda de tempo mas antes, por falta de assunto. Ou talvez não. A verdade é que eu nunca fui muito boa em fazer conversa de circunstância e, aparentemente, também não sou muito habilidosa em escrita de circunstância. Talvez faça parte desta minha personalidade perfeccionista e quase obsessiva pensar que aquilo que é dito deve ter sempre alguma utilidade e, não se verificando tal requisito, mais vale manter a boquinha fechada.
Mas também não acredito que cada coisa que digamos deva ser objecto de uma dissertação de Mestrado e este critério de qualidade que referi é algo que aplico mais à minha pessoa do que aos outros... Enfim. Nem eu me compreendo, por favor, não tentem fazê-lo sozinhos em casa.

De resto, a vida cá vai andando. O Solinho vai espreitando de vez em quando e aqui por casa está tudo praticamente igual, parece que o tempo pára enquanto estou fora. Quando chego, parece-me sempre que saí no dia anterior... 

O Simbinha magoou uma pata e duas idas ao veterinário valeram-lhe uma mão de medicamentos e um "funil" na cabecita. Quando se senta parece um candeeiro...


Inté*


sábado, 12 de março de 2016

Inspirar fundo

Estupidamente ou não, eu acredito que olharmos coisas bonitas e, sobretudo, que fazermos coisas bonitas, nos torna mais bonitos. Eu acredito que, se os meus olhos pousarem muitas vezes no mar e na montanha, e nas flores e em peças de teatro; que se os meus ouvidos servirem de entrada a melodias bonitas, a gargalhadas, tudo isso fica, de alguma forma em mim; um brilho oculto num lugar qualquer.

Eu acredito que as histórias de vida, as experiências, tornam as pessoas mais preenchidas; tornam-nas mais pessoas. É por isso que, quando tenho esse privilégio de viver dias bonitos, inspiro fundo e com cuidado - o ar também transporta essa magia. E toda a gente sabe que o sangue, para ser purificado, passa primeiro pelos pulmões.



Inté*

quinta-feira, 10 de março de 2016

Gaivotas

Quando a chuva dá uma trégua, costumo sentar-se à beira rio. Só assim. Ali sentada a ver como os barquinhos vão e vêm. E a ver as pessoas nos seus passeios em família.
E as gaivotas. E outros pássaros, de uma cor castanha malhada, que eu não sei como se chamam. As gaivotas são tão grandes! Impressiona-me a leveza com que voam; são do tamanho de uma grande galinha, mas com o triplo da leveza e elegância. Prefiro uma cidade com gaivotas do que com pombos. Contudo acho que, em certos aspectos (ora pensem lá quais...), gaivotas a sobrevoar as nossas cabeças podem causar muito mais estragos...

Tenho pena que as gaivotinhas tenham de pescar com este frio. A água deve estar tão fria! E elas lá vão, pousam na água e apanham um peixe! Tudo bem que as penas são impermeáveis... mas e as patas? Devem andar sempre com as patinhas frias...

A Manhê não podia ser uma gaivota; ela detesta ter os pés frios.

A propósito, as gaivotas também gostam de bolachas Maria. O outro dia deixei umas migalhinhas no parapeito da sala de reuniões do hospital e houve uma avezinha que foi lá buscá-las.



Inté*

quarta-feira, 9 de março de 2016

Em jeito de conclusão...

Ainda no seguimento do texto anterior, deixem-me dizer-vos que o médico que luta contra a morte, perde sempre. A morte é, provavelmente, a mais democrática, coerente e imparcial de todas as entidades: ela chega sempre e chega a todos. Pelo contrário, o médico que luta pela vida é aquele que poderá surtir as maiores recompensas; para si e para o doente. Penso que toda a temática da eutanásia e dos cuidados de fim de vida, deveriam ter por base esta ideia. Apesar de controverso, este é um tema que deve ser encarado com a serenidade de alguém que compreende que o maior benefício de todos é a garantia da qualidade de vida e a saúde.

Fico triste quando perdemos a esperança de viver uma vida melhor e, resignados com o sofrimento, vemos como tábua de salvação um adeus definitivo. Eu sei que, na maioria das vezes, poderemos conseguir melhor do que isto. Eu sei que, se usarmos a ciência a nosso favor, poderemos viver melhor - e não necessariamente mais! A alternativa à eutanásia não é unicamente o sofrimento. Há outras alternativas.

(A eutanásia é um assunto sobre o qual eu não quero votar "não" e tenho muito medo de votar "sim"... admiro quem encara o tema com tantas certezas).


Inté*

Eutanásia

É um tema complexo que deve ser debatido. Não sei se estamos preparados para um referendo no âmbito de um tema desta envergadura. Aliás, tenho a certeza que não. Primeiro porque "eutanásia" é, grande parte das vezes, um conceito mal interpretado. "Eutanásia" significa o acto deliberado de pôr fim à vida de uma pessoa a pedido da mesma. "Eutanásia" não é desligar as máquinas num doente em morte cerebral, nem é o mesmo que evitar a prescrição de tratamentos que já não trazem qualquer benefício ao doente. Existem, portanto, muitas interpretações erradas acerca deste conceito.

A morte é um acontecimento natural na vida do ser humano. A nossa sociedade, contudo, está mentalizada para evitar a morte a todo o custo; vemos isso todos os dias nos hospitais, quer da parte dos doentes, quer da parte dos médicos. Isso leva-nos ao conceito de "escárnio terapêutico" ou "obstinação terapêutica" que é a "aplicação de tratamentos que, sobretudo no contexto de doença avançada e irreversível, se podem considerar inúteis ou de tratamentos que, embora úteis, são desproporcionadamente incómodos para o resultado que deles se espera." A obstinação terapêutica é, portanto, uma atitude eticamente reprovável. Mas quantas vezes nós assistimos a doentes com prognóstico reservado que continuam a ser submetidos a exames e tratamentos que não lhes trarão qualquer benefício? Quantas vezes os profissionais de saúde são pressionados para "fazer tudo" o que puderem?... É esta sociedade que, ao mesmo tempo, quer legalizar a eutanásia... não chega a ser um paradoxo? Portanto, é importante compreender que  a "suspensão terapêutica e abstenção terapêutica não são formas de eutanásia, quando a decisão médica é determinada objetivamente pelo valor da qualidade de vida e não pela quantidade de vida e respeita a autonomia do doente." Assim, estamos perante dois extremos: o de prolongar a vida a todo o custo e o de terminar a vida de um doente em sofrimento; o difícil é encontrar o ponto de equilíbrio.

A questão da Eutanásia prende-se, obrigatoriamente, com o conceito de dor. Tradicionalmente, a dor e o sofrimento são considerados parte inerente da vida. A nossa educação judaico-cristã aportou com ela o conceito de "carregar uma cruz" como forma de expiação dos nossos pecados (no entanto, é esta mesma sociedade que muitas vezes, como eu disse anteriormente, luta fanaticamente contra a morte, acontecimento que, cristianamente, não deverá ser temido, pois dará lugar à vida eterna. Não se percebe esta divergência de pensamento...). Hoje em dia, não é, ou não deveria ser aceite que alguém sentisse dor. Existem inúmeras terapêuticas comprovadamente eficazes e seguras para alívio da dor. Mas existem também muitos mitos em volta deste tipo de tratamentos. "Morfina" é uma palavra que ainda faz arrepiar muitos pelinhos, sem qualquer justificação. "Opióides" são erroneamente associados a doentes terminais e prescrever um opióide a um indivíduo é quase o mesmo que passar-lhe um atestado de óbito. Creio que seja por mitos como este que a dor e as medidas de conforto sejam tão subestimadas e ignoradas em Portugal. E, por esse motivo, sou de opinião que, antes de discutir a legalização da eutanásia, deveríamos discutir a abordagem do doente terminal. Antes de discutirmos a morte como solução para os nossos problemas, deveríamos discutir como atribuir qualidade à vida dos doentes; antes de discutir a morte, deveríamos discutir a vida. Na minha opinião, avançar para a eutanásia antes de tentar melhorar a vida de alguém é saltar uma etapa muito importante. Pedir para morrer porque não se suporta a dor é uma morte digna?... Pedir para morrer porque alguém desconhece como tratar a minha dor não é digno para ninguém e é altamente reprovável, do meu ponto de vista. A eutanásia nunca deve ser a primeira escolha. Quantas pessoas, ao sofrerem dores horríveis, dizem que querem morrer? E quantas desistiriam dessa ideia se pudessem viver os seus últimos dias sem qualquer tipo de dor e desconforto? A eutanásia deve ser a última opção; deve ser considerada apenas perante um sofrimento excruciante que não cede a nada. Nesse sentido, a eutanásia que surge como primeira opção é um comodismo e um atestado de incompetência; a eutanásia é a solução mais fácil e rápida. Existem outros passos a dar antes de considerar a eutanásia. 

Temo que, à semelhança do que aconteceu com o referendo do aborto, também a eutanásia seja legalizada porque o "avançar dos tempos" assim o dita. "O aborto é legal em países modernos", diziam alguns; "a eutanásia é legal em países modernos", é também o que se ouve por aí. Esse não deve ser o argumento. Um país avançado aplica medidas terapêuticas correctamente, faz bom uso dos analgésicos e do conhecimento científico que tem ao seu dispôr. O bom uso desse conhecimento pode evitar muito sofrimento a doentes que, de outra forma, suplicariam morrer. Não podemos permitir que alguém pense que a única solução para o seu sofrimento é a morte! Na maioria dos casos, não é! E é uma hipocrisia e uma falta de ética fazermos crer os outros que não há nada mais a fazer quando a dor não cede a um tramadol... É por isso que eu defendo que não estamos preparados para a legalização da eutanásia; o primeiro passo para a legalização da eutanásia é garantir que todos os doentes tenham acesso a terapêutica analgésica eficaz e medidas de final de vida digno. Quando pudermos assegurar esse tipo de cuidados, quando os profissionais de saúde estiverem vocacionados para o tratamento efectivo da dor, quando o nosso país assumir o conceito de cuidados paliativos, aí sim, teremos uma base segura para a legalização da eutanásia. Enquanto isso não acontecer, a legalização da eutanásia é um "tapar o sol com a peneira".

Vamos lutar por melhores cuidados de saúde? Vamos lutar pela qualidade de vida? Ou vamos lutar pelo direito à morte? Será a única alternativa a uma vida de sofrimento?
Não valerá mais a pena lutar primeiro uma vida digna do que pelo direito à morte? Questões difíceis...

Podem procurar mais esclarecimentos e informações aqui.

Inté*

sábado, 5 de março de 2016

Os insectos e os livros

Ler um bom livro é, na minha humilde opinião, das melhores coisinhas que há nesta vida. Quando fico absorta na leitura, consigo ficar horas a fio agarrada a um livro. Aqui há uns dias, estava eu num desses momentos de alienação quando, por entre as páginas, surge um pequeno bichinho (insecto que eu descreveria com grande rigor científico, como uma bolinha preta). Não lhe dei grande importância e soprei-o para longe dali, não fosse esmagá-lo quando iniciasse a página seguinte. Daí a uns minutinhos, outro pequeno espécimen decide dar ares de sua graça, passeando-se por entre as frases, com uma pressa inexplicável, as patinhas de insecto a mexerem-se velozes sobre o papel.

Eu estava a ler na rua e, por momentos pensei que tal pudesse explicar esta comunhão entre o livro e a Natureza. Mas repetiu-se tantas vezes, que não me pareceu descabido de todo pensar que a manutenção dos livros da Biblioteca Municipal se faria durante a noite, por pequenos insectos bibliotecários. É ridículo, eu sei. A minha mente, não raras vezes, vagueia por um imaginário infantil subconsciente. Cheguei a imaginar até se não existiria um feitiço qualquer que tivesse condenado bibliotecários humanos a uma vida de artrópode.

Enfim. Talvez não me consiga focar completamente quando estou a ler. Por muito que goste do livro, há sempre uma janelinha por onde uma parte da minha concentração insiste em saltar...

Sim, já sei o que estão a pensar. Há serviço de Psiquiatria aqui no hospital, sim.


Inté*

quinta-feira, 3 de março de 2016

Cabelos...

O meu cabelo é uma fera difícil de domar. Bem sei que o despenteado e o natural andam na moda mas, na verdade, o verdadeiro despenteado, aquele que o é mesmo, sem manipulações, minha gente, só é bonito nos livros e nas frases feitas do Pinterest...

Ter um cabelo como o meu requer muita paciência. Há dias em que me resigno com o facto de sua excelência parecer ter vida própria e há outros em que o cortava rente, se pudesse. 

Digamos que o meu cabelo tem toda a rebeldia que eu não tenho; a pobre ficou-se pelo couro cabeludo e não se estendeu mais distalmente.



Inté*