Hoje em dia é muito comum dizermos que as pessoas estão "mais informadas". O acesso mais fácil a instrumentos como a internet veio possibilitar uma consulta quase ilimitada de dados sobre quase tudo.
A minha questão é: até que ponto tanta informação não será uma forma de desinformação. Nem tudo o que encontramos, seja em revistas, livros ou conteúdos online deve, na minha opinião, ser considerado informação no verdadeiro sentido da palavra - isto se partirmos do princípio que uma pessoa informada é aquela que está correctamente informada.
Por isso, lamento que nos consideremos pessoas muito informadas. Reparem na quantidade de dados errados que circula por esse Mundo fora. A internet veio possibilitar que qualquer um pudesse dizer qualquer coisa e, pior do que isso, tornar essa "informação" disponível para milhões de pessoas, pelo menos potencialmente. A televisão, por exemplo, também pode ser uma falsa fonte de informação se tivermos em conta, por exemplo, a selecção de notícias que é feita - muitas vezes pouco imparcial, tendencialmente sensacionalista e manipuladora.
Esta questão da informação (e desculpem lá a minha veia médica), também é extremamente importante na relação médico-doente. O doente tem direito a ser informado, é verdade. Mas estaremos nós a defender a forma mais correcta de informação? A disponibilização de mais informação é efectivamente a melhor forma de informar alguém? Isto é, será que nesta tentativa de informar bem o doente, se aplica a máxima do "quanto mais melhor"? Ou será mais importante a maneira como o doente é informado?
É uma questão difícil. Eu já cheguei a fazer desenhos aos doentes. Eu já vi outros médicos fazerem desenhos. Porque não se pode esperar, a título de exemplo, que uma pessoa que não tenha estudado anatomia compreenda certos procedimentos cirúrgicos (é normal...). Informamos melhor se lhe descrevermos o processo no íntegra ou se lhe fizermos um esquema que a faça compreender o grosso do que vai acontecer?
Coloco esta questão com a humildade de quem, por vezes, fica na dúvida sobre o que fazer... além de que, a maneira como as coisas são ditas também influencia muito a compreensão daquilo que é dito. A veiculação de informação e, portanto, a comunicação são assuntos difíceis e subvalorizados, a meu ver. Se pensarmos bem, grande parte dos nossos conflitos (e do Mundo, talvez) resulta exactamente de uma má comunicação.
A história da desinformação com que eu iniciei este post (e que já vai demasiado longo), é quase como aquela tendência que existe para achar que as pessoas que falam muito são muito comunicativas... serão mesmo? É que há gente que fala tanto para não dizer nada...
Portanto, um acesso rápido a muitos dados é, algumas vezes, um verdadeiro perigo, porque temos pessoas seguras de que estão bem informadas a tentar fazer valer as suas verdades com base em conhecimentos muito pouco fiáveis (nem sempre, é claro).
A solução não pode passar, como é óbvio, pela filtração daquilo que é disponibilizado porque, por um lado, isso é praticamente impossível e, por outro, porque seria um atentado ao direito de expressão. Não consideramos tão grave a veiculação de informação falsa e descabida. A liberdade trouxe com ela este efeito perverso de ao "sermos livres de dizer", acharmos que não existem consequências em dizer tudo...
Inté*