Quando esta tirinha foi publicada na página do Armandinho, algumas pessoas disseram que os médicos iam sentir-se ofendidos.
Na verdade, quando vi a ilustração pela primeira vez, fiquei na dúvida se seria realmente dirigida aos médicos ou a todos aqueles que se auto proclamam "doutores" com base em... sei lá. É que se ganhou um amor muito grande àquele "Dr-zinho" que vem antes do nome. Perderam-se os títulos da nobreza e veio o Dr. para os substituir - o ser humano gosta muito de se sentir distinguido (não exactamente por aquilo que faz, mas antes pelo estatuto que tem ou que faz crer que tem).
Por isso, hoje em dia, quase todos somos doutores de alguma coisa. Às vezes, basta estarmos sentados atrás de uma secretária, mesmo que não façamos nada durante todo o dia, e já somos doutores. Não é fabuloso? Como vamos então distinguir os verdadeiros doutores dos doutores auto-proclamados? Fácil. Os verdadeiros doutores nunca exigem ser tratados como tal; são, na maioria das vezes, pessoas realmente simples que sabem que o seu valor está naquilo que são e naquilo com que contribuem para o Mundo, portanto, não necessitam ganhar visibilidade exigindo aos outros que os tratem de certa maneira.
Os doutores auto-proclamados não têm nada que sustente o seu Dr; a vida não plantou neles um ego satisfatório, pelo que é necessário colmatar essa lacuna. Além disso, aparentemente, não têm nada que faça crer aos demais que sejam doutores então, uma vez que o Dr. não é proferido espontaneamente, é preciso pedir (com um tom autoritário para mascarar a imploração) que os tratem como tal. E às vezes, as pessoas até se esquecem desse pormenor porque, enfim, não há nenhum aspecto que lhes recorde que aquela pessoa possa mesmo ser diferente, e mais uma vez, o doutor auto-proclamado, reaviva a memória com um "António, não; Doutor António".
Porquê? Não sabemos.
Mas reparem, este costume matarroano que ganhámos de nos afeiçoarmos a um Dr. em vez de gostarmos ser tratados pelo nosso nome, cada vez tem menos razão de ser. Quando o varredor na rua (sem qualquer intenção de desvalorizar a profissão) for tratado por doutor, os doutores auto-proclamados vão continuar a querer serem tratados por Dr.? Acreditam mesmo que um Dr. faz de alguém uma pessoa melhor e mais amada?
E já agora, para que serve o Dr.? Dá descontos no Cartão Continente?...
Inté*