Foi ontem noticiado no Público que, na sequência da não colocação de 114 médicos na especialidade, a Associação Nacional de Estudantes de Medicina pede uma diminuição do número de vagas nas faculdades de Medicina. Li esta notícia no Facebook e, mais uma vez, testemunhei como a estupidez e ignorância da opinião pública não tem limites. Impressiona-me cada vez mais, que as pessoas façam comentários sobre matérias que desconhecem completamente, não se coibindo de forma alguma de falarem sobre aquilo que não sabem.
Vejamos, antes de mais, que todas as notícias que se prendam com médicos ou estudantes de Medicina, trazem imediatamente à tona a velha história de que os médicos são uma classe de elite que não faz nada e ganha muito. É ver como o ódio e a revolta discorrem nos comentários. Ridículo. Vão, por favor, verificar o ordenado de um médico antes de abrirem a boca.
Em segundo lugar, as pessoas regozijam-se com o desemprego dos médicos. É triste mas é verdade. "Os professores e os engenheiros também estão no desemprego! Porque é que os médicos também não podem estar?". Bravo. Acho que é este tipo de atitude que precisamos: lutar pela igualdade nunca é demais! Mas se calhar, poderíamos lutar por outro tipo de igualdade, por exemplo: todos nós temos direito a um emprego. Lutar pelo desemprego não vale a pena, ele vem sozinho, poupemos as nossas energias nesse sentido. Ainda relativamente a este ponto, é importante frisar que a não entrada na especialidade NÃO É a mesma coisa que desemprego. A não entrada na especialidade médica é não permitir a um médico que termine a sua formação e, até hoje, a formação numa especialidade era obrigatória para um médico poder exercer a sua profissão. A formação em Medicina compraz o tempo de faculdade, um ano de prática clínica, que é o chamado Ano Comum, e mais 4 a 7 anos de especialidade. Por isso, quando um médico é impedido de aceder à especialidade, não o estamos a condenar ao desemprego; estamos a condená-lo a uma formação incompleta que o impede de exercer; é deixar o filme a meio. Entendidos?
Em terceiro lugar, a maioria das pessoas revolta-se com o facto de serem pedidas menos vagas para a entrada na Faculdade de Medicina porque temos falta de médicos e quererem limitar o número de vagas tem como único propósito garantir altos salários (outra vez) e consultórios cheios. Mais uma vez, comentários sem qualquer conhecimento de causa. O facto de termos um número de alunos superior à capacidade formativa em meio hospitalar, faz com que a qualidade de formação não seja garantida - teríamos portanto, bastantes médicos, mas médicos menos capacitados. Servem esses? E que tal termos médicos indiferenciados (médicos sem especialidade)? Há 50 anos que em Portugal é obrigatório tirar a especialidade e agora vai deixar de o ser. Brilhante, não acham? Mais um esforço e, qualquer dia, voltamos à Idade Média.
Portanto, minha gente, é assim: a opinião pública não fundamentada, que não discerne os tons cinzentos dos assuntos, que apenas se baseia em títulos de notícias e em comentários bairristas é o que atrasa este país. Incentivar, como eu vi fazerem ontem, à contratação de médicos estrangeiros, ao aumento do número de vagas nas faculdades, ao desemprego médico é tudo o que um Governo pode desejar. Assim se tomam medidas populistas que agradam ao povinho, burro e desconhecedor; medidas estas que, paradoxalmente prejudicam esse mesmo povinho. Mas ele parece agradecer ser chicoteado.
Não compreendo, sinceramente. Quando não tiverem certeza do que estão a dizer, perguntem! Abram essas mentes e procurem informar-se!
Inté*