Li a notícia um bocado na diagonal, mas parece que vai passar a ser proibido "fumar" cigarro electrónico em espaços públicos. Teoricamente, o cigarro electrónico é algo inócuo e, portanto, assim à primeira vista, não me parece necessário proibir o consumo deste produto em espaços públicos. Ainda assim, não pensei muito no assunto e, portanto, não vou tecer grandes comentários relativamente a isto.
Eu trouxe-vos este assunto porque, no seguimento desta notícia, alguém se insurgiu quanto à possibilidade da adopção desta medida, referindo que, mais importante do que proibir o consumo de cigarros electrónicos em espaços públicos, seria a adopção de campanhas e medidas relativamente à venda e consumo de produtos alimentares com elevado teor de açúcares e gorduras. De facto, e não sei se alguma vez abordei este tema por aqui, acho incorrecto que produtos como bolachas, chocolates e outros que tais, sejam taxados com IVA de 6%, por exemplo. São produtos alimentares, é verdade, mas não são bens de primeira necessidade e, se tivermos em conta que em Portugal a principal causa de morte é a doença cardiovascular (AVC's e enfartes do miocárdio), é uma vergonha que não sejam adoptadas medidas de Saúde Pública com a magnitude das campanhas anti-tabágicas, em que seja desincentivado o consumo deste tipo de produtos (e outros...) e promovido o consumo de alimentos mais saudáveis.
Somos cada vez mais gordos; quase todos os indivíduos a partir de certa altura, têm diabetes tipo 2; a HTA é outra epidemia que tal e as nossas políticas beneficiam os lobbies das grandes indústrias alimentares em detrimento da nossa saúde.
Alguém dizia que faz sentido que a campanha contra o tabaco seja mais premente do que uma campanha contra hábitos alimentares (incluindo consumo de bebidas alcoólicas) porque "podemos morrer com o fumo dos outros, mas ninguém morre só porque a pessoa ao lado comeu uma bolacha". Ora, esta insinuação, para além de me parecer de um egoísmo abismal, parece-me também reveladora de uma grande ignorância. Primeiro, porque todos nós sabemos os riscos que corremos num país que gosta de beber uns copos a mais, nomeadamente, a quantidade de acidentes de trânsito que acabam de forma bastante trágica. Em segundo lugar, basta recordar que todos nós financiamos, mediante o pagamento de impostos, o nosso Serviço Nacional de Saúde. Somos nós que pagamos todos os internamentos por diabetes descompensada, por enfartes do miocárdio, por AVC's; somos nós que pagamos os transplantes de fígado; somos nós que temos listas de espera consideráveis para consultas que poderiam ser menores se não tivéssemos tantos doentes em consultas de diabetes, HTA e por aí fora. (Ah, e faltam as baixas!...).
Portanto, os gastos, directos e indirectos, que resultam dos nossos estilos de vida sedentários e atolhados de comida pouco saudável são enormes e são pagos por todos nós. Além disso, penso que todos nós beneficiaríamos de uma sociedade mais saudável, certo?
Tenho pena que não exista coragem da parte das entidades competentes, para tomar medidas concretas e verdadeiramente fracturantes, digamos assim, no que diz respeito à indústria alimentar (como foi a redução do teor de sal no pão, por exemplo). É verdade que muitas alternativas a alimentos menos saudáveis são mais caras. Mas muitas dessas alternativas também são dispensáveis (produtos sem açúcar, frutose e outros adoçantes, substitutos da carne, sei lá...). Os velhinhos legumes, a fruta, o leite e o consumo moderado de tudo o que comemos constituem, no fundo e em termos gerais, aquilo que é realmente fundamental... e pouco dispendioso.
Inté*