Comemorou-se esta semana o 25 de Abril. Cá em casa este dia é efusivamente comemorado porque uma pessoa especial faz anos nesse dia. Sim, eu sei que é uma data muito importante, que a maioria da malta nova já nem sabe o que é, etc. e tal, mas pergunto-me se hoje em dia continuamos a viver a liberdade como a conquistámos nessa madrugada ou se cada vez mais vivemos uma "falsa liberdade". Lá porque podemos dizer tudo o que nos apetece, isso não faz de nós pessoas livres. Às vezes, tenho a sensação de que, o facto de nos convencerem que somos livres acaba por ser a nossa verdadeira prisão - um povo livre, o que é que pode exigir mais?
Diz-lhe que são livres!...
Bom, mas o que me faz falar deste tema é um fenómeno cada vez mais frequente na área da Saúde. Se antigamente o médico era uma espécie de Ser Supremo a que o doente se deveria submeter, agora a situação tem tendência a reverter, com os médicos a serem cada vez mais pressionados pela possibilidade de serem processados, entre outros. É a maravilhosa manifestação da falta de bom senso do ser humano e da facilidade com que se passa de 8 a 80. O médico antes era bom, o médico agora é uma pessoa cheia de segundas intenções.
Os direitos e a liberdade do paciente são uma constante no nosso processo de aprendizagem. O doente tem direito a ver o processo clínico, o doente tem direito ao acesso aos exames complementares que realiza... nada contra. Mas isto é o verdadeiro exercício do direito do doente? É que na grande maioria dos casos o doente não vai saber interpretar o que está a ver, bem como um médico provavelmente não saberia interpretar um boletim metereológico. Esta nova modalidade de quererem convencer as pessoas de que os seus direitos consistem apenas no acesso a toda a informação a seu respeito é das coisas mais hipócritas que eu já vi na minha vida. O doente não precisa que lhe forneçam as imagens de um Rx; o que o doente precisa verdadeiramente é que alguém lhe forneça as imagens do Rx devidamente interpretadas!
Conheço um caso de uma doente que se queixava constantemente de cefaleias. Depois de muitos exames, não se conseguiu apurar uma causa para aqueles episódios de dor. Mas um dia, a doente tanto insistiu com o Médico de Família, que este requisitou uma Ressonância Magnética (RM). Efectivamente, detectou-se uma alteração neste exame. Uma alteração que, contudo era perfeitamente benigna e que NUNCA poderia consituir a etiologia das dores de cabeça da doente. Mas a doente teve acesso ao relatório da RM antes de comparecer na consulta e quando teve oportunidade de estar com o seu médico a primeira coisa que disse foi:
- Eu sabia que tinha alguma coisa na cabeça!
E nunca mais compareceu nas consultas... e nunca vai conseguir livrar-se das cefaleias porque "aquela coisa" que tem na cabeça não é para operar e não vai desaparecer.
É assim que educamos os cidadãos como indivíduos plenos de direitos, não é? Com estas pequenas ilusões, tal qual um burro a correr atrás de uma cenoura...
Inté*
6 comentários:
Concordo contigo quando dizes que os médicos são atualmente postos em causa por tudo e por nada. É um exagero achar que as pessoas devem ter acesso a todos os dados se não os souberem interpretar em condições, porque em último caso isso pode colocar a sua saúde em risco (tomando decisões como a da senhora de que falas). Porém, muitos médicos ainda se acham o supra-sumo da batata frita e acabam por não esclarecer os doentes e familiares convenientemente. Claro que a maioria são idosos e pessoas sem formação na área da saúde, o que exige explicações simplificadas. Contudo, não devem generalizar e isso acontece-me frequentemente. Não sou médica, mas sou estudante na área da saúde; já li capítulos do Harrison, do Goodman e outros de referência. E, ainda assim, quando peço explicações mais detalhadas respondem-me sempre com rodeios e nunca atendem ao meu pedido. É irritante!
É bem verdade, a liberdade não é só pudermos dizer o que queremos... aliás a democracia não está na sua melhor fase, é a minha opinião.
dropsofmagic: a obrigação do médico é esclarecer o doente, sem dúvida nenhuma. E além disso, deve fazê-lo com uma linguagem que a pessoa compreenda :) "convencidos" vai haver sempre, acho que em qualquer profissão... mas felizmente, acho que isso está a mudar ;)
Audrey Deal: pois não... :\
Olha eu não podia concordar mais contigo!!!
Beijinho*
Os médicos são pessoas. Há médicos bons e médicos maus, como em todas as áreas.
Na minha estreita relação com o sistema de saúde, tenho encontrado de tudo. Felizmente mais médicos bons do que maus e estou convencido de que muitos problemas derivam mais do sistema em si, do que do próprio médico.
Até naquelas situações em que há razões evidentes de alguma displicência por parte de alguns profissionais da saúde (incluindo médicos), o facto se deve a um sistema onde parece que reina um certo caos e nessas situações de pouco rigor, os maus tendem a aproveitar-se.
É a vida! xD
Pretty in Pink: ;)
ventania: concordo plenamente :) obrigada pelo comentário!
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