quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Txiii... Oh Estudante, grande testamento!

Li a notícia um bocado na diagonal, mas parece que vai passar a ser proibido "fumar" cigarro electrónico em espaços públicos. Teoricamente, o cigarro electrónico é algo inócuo e, portanto, assim à primeira vista, não me parece necessário proibir o consumo deste produto em espaços públicos. Ainda assim, não pensei muito no assunto e, portanto, não vou tecer grandes comentários relativamente a isto.

Eu trouxe-vos este assunto porque, no seguimento desta notícia, alguém se insurgiu quanto à possibilidade da adopção desta medida, referindo que, mais importante do que proibir o consumo de cigarros electrónicos em espaços públicos, seria a adopção de campanhas e medidas relativamente à venda e consumo de produtos alimentares com elevado teor de açúcares e gorduras. De facto, e não sei se alguma vez abordei este tema por aqui, acho incorrecto que produtos como bolachas, chocolates e outros que tais, sejam taxados com IVA de 6%, por exemplo. São produtos alimentares, é verdade, mas não são bens de primeira necessidade e, se tivermos em conta que em Portugal a principal causa de morte é a doença cardiovascular (AVC's e enfartes do miocárdio), é uma vergonha que não sejam adoptadas medidas de Saúde Pública com a magnitude das campanhas anti-tabágicas, em que seja desincentivado o consumo deste tipo de produtos (e outros...) e promovido o consumo de alimentos mais saudáveis.

Somos cada vez mais gordos; quase todos os indivíduos a partir de certa altura, têm diabetes tipo 2; a HTA é outra epidemia que tal e as nossas políticas beneficiam os lobbies das grandes indústrias alimentares em detrimento da nossa saúde.

Alguém dizia que faz sentido que a campanha contra o tabaco seja mais premente do que uma campanha contra hábitos alimentares (incluindo consumo de bebidas alcoólicas) porque "podemos morrer com o fumo dos outros, mas ninguém morre só porque a pessoa ao lado comeu uma bolacha". Ora, esta insinuação, para além de me parecer de um egoísmo abismal, parece-me também reveladora de uma grande ignorância. Primeiro, porque todos nós sabemos os riscos que corremos num país que gosta de beber uns copos a mais, nomeadamente, a quantidade de acidentes de trânsito que acabam de forma bastante trágica. Em segundo lugar, basta recordar que todos nós financiamos, mediante o pagamento de impostos, o nosso Serviço Nacional de Saúde. Somos nós que pagamos todos os internamentos por diabetes descompensada, por enfartes do miocárdio, por AVC's; somos nós que pagamos os transplantes de fígado; somos nós que temos listas de espera consideráveis para consultas que poderiam ser menores se não tivéssemos tantos doentes em consultas de diabetes, HTA e por aí fora. (Ah, e  faltam as baixas!...).

Portanto, os gastos, directos e indirectos, que resultam dos nossos estilos de vida sedentários e atolhados de comida pouco saudável são enormes e são pagos por todos nós. Além disso, penso que todos nós beneficiaríamos de uma sociedade mais saudável, certo?

Tenho pena que não exista coragem da parte das entidades competentes, para tomar medidas concretas e verdadeiramente fracturantes, digamos assim, no que diz respeito à indústria alimentar (como foi a redução do teor de sal no pão, por exemplo). É verdade que muitas alternativas a alimentos menos saudáveis são mais caras. Mas muitas dessas alternativas também são dispensáveis (produtos sem açúcar, frutose e outros adoçantes, substitutos da carne, sei lá...). Os velhinhos legumes, a fruta, o leite e o consumo moderado de tudo o que comemos constituem, no fundo e em termos gerais, aquilo que é realmente fundamental... e pouco dispendioso.


Inté*

16 comentários:

Esmy disse...

Pode ser um grande testamento, mas concordo em absoluto com ele :)

Tétisq disse...

concordo com tudo e na minha humilde ignorância pensava que fumar estas coisas modernas já estava sujeito às mesmas regras dos cigarros normais.

Estudante disse...

Esmy: :)

Tétisq: pois, pelos vistos vai estar sujeito agora :P

Andreia Morais disse...

Muito bem observado! De facto, essas campanhas preventivas não deviam ser aplicadas ao tabaco, mas, lá está, o pensamento ainda está muito na base do "podemos morrer com o fumo dos outros, mas ninguém morre só porque a pessoa ao lado comeu uma bolacha". E contra mim falo por adoro bolachas :p brincadeira à parte, a verdade é que pensamos muito no imediato e não colocamos em hipótese todas as implicações que as nossas ações têm!

r: Somos duas :D

Lápis Roído disse...

Concordo por inteiro. A luta pelo bem-estar e saúde da população não deve circunscrever-se apenas às proibições relacionadas com o tabaco. Tudo o que possa ser prejudicial à saúde deveria merecer um olhar atento por parte do Ministério da Saúde e as campanhas de sensibilização e prevenção deviam ser tão ferozes como o são aquelas que têm o tabaco como alvo. Poupavam-se umas quantas vidas e uns valentes milhões de euros ao erário público.
Mas sou igualmente partidário da ideia que cada um de nós deve ter consciência dos malefícios de hábitos alimentares desregrados e dos comportamentos ditos de risco. Também está na nossa mão decidir o que vai ser o nosso futuro em termos de saúde, não é? Há imponderáveis, é certo, mas todos concordamos que os hábitos de vida saudáveis prolongam a nossa qualidade de vida e podem muito bem ditar uma maior extensão da mesma.

Pedro Coimbra disse...

Onde é que eu assino o que aqui escreve??

Jedi Master Atomic disse...

Atenção que a proibição do cigarro eletrónico não é nada mais do que proibi-lo onde o cigarro "normal" já é proibido.

Em relação aos produtos alimentares isso daria uma outra grande conversa, pois para isso terias que impedir toda a comida com sal.

Estudante disse...

Andreia Morais: ahaha :P eu também adoro bolachas e outras coisas, mas não consigo compreender como é que nada é feito relativamente à venda deste tipo de produtos...

Lápis Roído: sem dúvida que todos nós estamos cientes (ou deveríamos estar...) das escolhas que fazemos e ninguém me obriga a comer o que me faz mal :P no fundo, o que eu defendo, não é a proibição da venda ou consumo de produtos alimentares menos saudáveis, mas antes a sua "penalização" como por exemplo, com a alteração do IVA para 23%... e medidas similares. Também poderíamos estabelecer regras para as empresas que vendem este tipo de produtos, como por exemplo, emitir uma lei que proíba o fabrico de alimentos com uma certa percentagem de açúcar ou gordura ;)

Pedro Coimbra: ahah :D podemos fazer uma petição!

Jedi Master Atomic: sim, sim, eu percebi ;) eu não defendo a proibição da venda desses alimentos; eu acho que deveriam rever o IVA de alguns e deveriam ser estabelecidos por lei limites quanto ao teor de açúcar, sal e gordura dos produtos vendidos, à semelhança do que já acontece com o pão ;)

Denise disse...

Impecável!
Concordo com tudo e mais alguma coisa viesse ;)
Independentemente de sermos responsáveis pela nossa saúde, uma regulamentação do género, direciona as condutas das pessoas, sensibiliza e orienta. E isso é muito necessário.

Beijinhos!

Estudante disse...

Denise: Ora, nem mais ;)

Lápis Roído disse...

Sim, as medidas que apontas fazem todo o sentido e, quando forem postas em prática, só pecam por virem tardiamente. Urge fazer algo na área da alimentação e a forma como estás a pensar seriam um bom caminho a seguir

Estudante disse...

Lápis Roído: ;)

Gaja Maria disse...

Subscrevo totalmente, e é só ver os carrinhos das mães a comprar os lanches das suas crianças para perceber que tudo se vai agravar cada vez mais e muito em breve...

Estudante disse...

Gaja Marias: e as publicidades que defendem um kinder bueno como um bom lanche?? Ridículo e irresponsável. Não sei como é possível deixarem passar uma coisas dessas...

Alguém que lê o blog com muito gosto :) disse...

Olá :) costumo ler as suas publicações, mas é a primeira vez que comento. E tenho de concordar consigo no que diz respeito ao açúcar e todos os alimentos processados com o IVA nesses 6%. É inacreditável como é que não há medidas mais restritas nesta área.
E no seguimento desta indignação vi um documentário recentemente sobre o tema: Fed Up. Não sei se conhece ou se já o viu, mas aconselho. Passa-se nos EUA (onde os hábitos alimentares não estão minimamente relacionados com a nossa dieta mediterrânica), mas ajuda a esclarecer bastantes coisas. E, se não esclarecer nada, pelo menos alerta a população (assim espero) para a epidemia global que é a obesidade.

Cumprimentos de uma futura colega, que está na batalha contra o Harrison e contra os kg's a mais que podem surgir nesta fase :P

Estudante disse...

Anónimo: o Fed Up não conheço, mas assisti a um muito bom (de que já não me recordo o nome :/), sobre o consumo do açúcar! Olha, eu emagreci quando estive a estudar o Harrison :P e muito! Podes tratar-me por tu e tenho muito gosto em que comentes sempre que te apetecer ;)

Bom estudo e força nisso :D